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20 Anos Sem Brizola: Político Permanece Símbolo da Luta Democrática

 Miguel Arraes, Lula e Leonel Brizola

O cenário era de alta tensão em 28 de agosto de 1961. O então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, correu para o porão do Palácio Piratini e fez um pronunciamento improvisado para uma rádio montada pela equipe. “Hoje, nesta minha alocução, tenho os fatos mais graves a revelar. O Palácio Piratini, meus patrícios, está aqui transformado em uma cidadela que há de ser heroica (...),” declarou ele, pedindo resistência até o fim. Esse momento crucial ajudou a consolidar a figura de Brizola (1922 - 2004) na história do Brasil. Segundo especialistas, ele evitou um golpe militar em 1961 através de uma rede de rádios.

 Esses eventos serão destacados em um documentário de Sílvio Tendler, previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano. O episódio ocorreu após a renúncia de Jânio Quadros, quando o vice-presidente João Goulart estava fora do país em missão diplomática. A cúpula militar tentou impedir a posse de Goulart, levando Paschoal Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara, a assumir temporariamente.

Análise Histórica

Leonel Brizola Neto, neto do ex-governador e responsável pela liberação das imagens para o documentário, busca perpetuar o legado do avô através de uma associação cultural. Segundo ele, Brizola tinha uma compreensão clara da ameaça de ruptura democrática. "Naquela época, não havia a facilidade das informações que temos hoje. Ele entendeu a situação e começou a organizar a resistência. Todos os atos de Brizola foram sempre dentro da legalidade democrática," afirma.

 Para defender a posse de João Goulart, Brizola usou a Rádio Guaíba, um meio controlado pelo governo estadual. O professor de história Adriano de Freixo, da Universidade Federal Fluminense, ressalta que Brizola foi a figura central da resistência contra a tentativa de golpe em 1961, precursores do golpe de 1964.

 A “rede da legalidade,” como ficou conhecida, uniu mais de 100 rádios no Brasil, retransmitindo discursos em defesa da democracia. Brizola denunciou que aviões militares brasileiros tinham ordens para atacar o Palácio Piratini. No entanto, a adesão de membros da Força Aérea, que boicotaram as aeronaves, impediu que essas decolassem, conforme relatam os pesquisadores.

Leonel Brizola, que faleceu há 20 anos, continua sendo uma referência para a luta democrática no Brasil. Seu legado de resistência e defesa da legalidade democrática permanece relevante e inspira novas gerações na busca por justiça e direitos sociais.

Frustração

O professor Adriano de Freixo afirma que Leonel Brizola estava preparado até para o confronto armado, se necessário. “Como ele mencionou em alguns depoimentos, sua intenção era marchar para o Rio de Janeiro, dissolver o Congresso – que considerava conivente com a tentativa de golpe – e garantir a posse de João Goulart”, explica Freixo. A aceitação de um regime parlamentarista provisório por Jango foi uma grande decepção para Brizola.

Essa frustração ocorreu em um contexto político complexo. Pesquisadores da época apontam que havia um grande apoio popular à posse de Jango em 1961. O sociólogo Yago Junho, que também estuda a trajetória de Brizola, destaca que o então governador do Rio Grande do Sul ganhou a opinião pública ao entender a importância da comunicação.

“A batalha política é, em essência, uma batalha das comunicações. Com mais de 70% da população apoiando Jango, Brizola queria efetivamente promover mudanças. No entanto, a conciliação prevaleceu, adiando o golpe por apenas três anos”, analisa Junho. Os estudiosos concordam que, embora Brizola fosse habilidoso, ele não previa que Jango cederia às pressões dos militares.

Legados

Os pesquisadores destacam que a infância pobre de Brizola no Rio Grande do Sul foi determinante para suas escolhas políticas. Governador de dois estados – Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro – Brizola sempre defendeu o trabalhismo e os direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, conforme analisa Yago Junho.

Para Adriano de Freixo, Brizola é uma das figuras públicas mais significativas da segunda metade do século XX. 

Leonel Brizola Neto, neto do ex-governador, busca dar mais visibilidade ao legado do avô, além do documentário já em produção. “Estamos trabalhando para digitalizar todos os registros e disponibilizá-los online para que as pessoas possam acessá-los e pesquisá-los”, diz Brizola Neto.

Ele lembra do avô não só como político, mas também como um homem disciplinador, que valorizava a pontualidade e gostava de compartilhar histórias em reuniões familiares. “Recordo dele me ensinando a fazer orçamento doméstico e até plantando bananeira em casa. Ele era muito forte”, conclui o neto.

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